Crepúsculo da Alma
É triste o entardecer chuvoso, tudo fica melancólico. Sinto que a Terra chora. Sinto que choro com ela!
É triste sentir o ar quente sair de ti e evaporar-se numa dança com a luz fria do poste.
Vendo o reflexo, feito de poças d'água, de um rosto vazio, me sinto mais triste ainda. Sinto mais frio!
O corre-corre do fim do dia, o anseio de voltar pra casa, os carros e os para-brisas, e eu aqui. Não sinto nada!
Os guardas-chuvas sendo abertos, mães protegendo seus filhos. Casais se abraçando, caminhando para futuros incertos. E eu aqui.Parada.
Não reclamo de ficar encharcada, a tristeza já pesa o suficiente pra me incomodar com qualquer outra coisa.
De repente, uma vontade me invade!
Cair!
Cair de braços abertos, girar e cair...
Abrir minha boca e saborear a chuva, engolir...
Como se cada gota de chuva fosse uma dose de amnésia.
Esquecer!
Lavar-me dos fantasmas!
Já tentei tantas vezes me livrar deles.
Banhar-me de esquecimento
Livrar-me de mim!
Abandonar essa carcaça fadada a triste sina de ver a luz no fim do túnel e não chegar lá.
Quem dera esquecer de que já estive tão perto!
A noite cai! De repente, o entardecer acabou. Os trovões foram a trombeta de anunciação!
E a Negra Dama surge impiedosa, com mais raios, mais pranto!
As luzes dos postes já não parecem o suficiente.
Será a luz que enfraqueceu? Ou meus olhos acolhendo o desejo da minha alma?
Quero unir-me a noite.
Me tornar sombras...
Fechar os olhos e contemplar o vazio.
Dissipar-me em brisa
Esvaecer-me em pó, em nuvem, em cinza!
E de repente... Não ser mais nada!