pintura/Lilianreinhardt      
                     Memoriais de Sofia Zocha

                     No varal da venda do seu Rufino as rodas  rubras de salsicho, os queijos enforcados, o zunido da mosca verde. Nas prateleiras altas envidraçadas os olhos esbugalhados da menina cravados nos pacotes de celofane de lãs baratas. O cheiro de fumo talvez espantasse um pouco as baratas e elas voassem embriagadas de cachaça com rótulo daquele tatu. O diabo da coisa é que o cheiro das sardelas dava água na boca, vinham emprenhadas de sal e perigosas ao estomago era necessário  fazer-se  um lavado longo para desalgar e enrola-las  nas cebolas....Seu Rufino com a faca afiada tascava uma lasca da roda do salsicho, balangava o varal e as moscas zuniam pra pousar mais adiante nas mantas de toucinho,  e a fritura daqueles torresmos engordava o gozo da fome...na balança ele empurrava o peso  ....e depois com aquele lápis meio quadrado rabiscava num caderno amarrotado...poemas de banha, linguiça caseira, um pedaço de toucinho, margarina Saúde, um pedaço de queijo de cascão grosso amarelecido, azeite Fanadol, Rinso lava mais branco...ficaram...