Estas ideias

Estou grávida de ideias, preciso expulsá-las, parir cada uma delas com a dor de corpo e de alma. Quero livrar-me de cada uma delas, retirá-las desse meu corpo já exauridos de carregar por tão longa gestação. Não dar à luz, pois não é tão lindo, mas simplesmente parir uma a uma ideias que me exaurem, me consomem, me fazem... que se fazem um outro eu. Não como parte de mim, mas como vida independente, que cresce ao ir para longe, passar por outras mãos, outras bocas, outros corpos. Ideias com vida, não fetos imaturos, ideias com coração pulsante. Ideias que movimentem, que impactem, que mostrem de onde vieram, mas também quem elas próprias são. Preciso jogar para fora cada uma dessas palavras que se movem, que me movem, que deveriam fazer o mundo girar e nos levar em outra direção. Esta caixa de onde breve sairei não pode conter também tudo o que sinto e penso... este corpo que se corrói e passa não vai me manter nesta terra, e tudo o que sai de mim tem de fluir, tem que voar, libertar e ficar no lugar de um eu que já não mais existirá. Então trarei ao mundo cada uma das ideias com dor de mãe, criarei e partirei, deixando que elas cresçam e sigam suas rotinas transformando as vidas pelas quais passarem.