Inconformação artística
É comum um espírito criativo ter seus dias de improdutividade, e até de inconformação com a sua obra. Lembro-me do que me disse, um mestre certa vez. “Para dá a luz é preciso ficar prenhe” e um gigante não nascerá sem um longo período de gestação: veja o caso da criação, por exemplo, não foram seis dias criativos? E uma eternidade de elaboração? Levando em conta este princípio e que depois do sexto dia não se produziu mais nada. Antes do primeiro ato criativo deve ter havido outra eternidade de preparação para o parto de Deus, aí veio à luz um monstro imenso para nunca mais deixar de crescer.
Assim se dá com um escritor, ou com artista, necessita de uma gravidez intelectual para produzir algo de valor, substancial. Poucos são os gênios que não reconhece a eficácia da espera. Ou que, ao ficar maduro não tenha repensado sua obra, e muitos até abominaram os filhos da juventude. Poucos são os primogênitos que conseguiram convencer seus pais de sua nobreza.
É, portanto, é na idade madura que os homens se superam, e isso não acontece só com os artistas; mesmo entre os seres “normais”, entre os homens comuns, tenho observado que estes também a se percebem, que adquirem uma força moral superior à juventude, para dizer e fazer o que pensam ser melhor. Isso não é uma apologia à geriatria, eu ainda prefiro a intrepidez da juventude, sobretudo a coragem que respiram. O ideal seria termos juntos, em um só corpo dois espíritos, o exuberante e robusto espírito da juventude e o sazonado e ponderado espírito senil Imaginem do que seria capaz um homem que possuísse tal tesouro. Todavia, ao passo que se aproxima o fim da peça magnífica que é nossa existência, mais eufóricos ficam os atores para dar o seu melhor, e isso ocorre porque não sabem se terão outra chance para representar o mesmo papel.
Brasília 30/10/2006