É Tempo...
O silêncio cortante. As palavras se escondem e se fragmentam. Correm, escorrem pelas veias.
Não há como pronunciá-las e se houvesse, não faria. Mas elas continuam a cortar meus membros, parte a parte, à espera de serem jorradas. E não jorram. É o tempo do silêncio.
E meus olhos, dispersos, vagam por multidões. E não vejo vida. E não vejo cores. Não vejo nada.
Minhas mãos parecem frias, nuas. O sangue congelado pelas palavras que lhe cortam. E não há vida ao que se toca. Não, não há.
E esse tempo tão estranho, de remotos mortos-vivos. E essas cores descoloridas. E essas almas tão inóspitas. E esses sorrisos tão sem graça. E esses olhares tão indiferentes.
E a aurora sem luz, sem vida. Não há raios que perpassam por minha pele. Não há raios que aqueçam o que há por dentro. Não há raios que culminem a vontade de jorrar, quem sabe, as palavras que cortam e congelam.
Mas, é tempo de indiferença. É tempo sem luz. É tempo de silêncio cortante.
(Em 2011)