Paladino das Cocotas
Seria estranho se não fosse cômico. Pensou ter aprendido alguma coisa, pensou ter evoluído, qualquer grau de experiência pensou que fosse bem vindo. Não que não houvesse algum, apenas insuficiente para ser relevante. Não o bastante para lhe fazer largar essa mania de se apaixonar em cada esquina, um amor a cada par de olhos, cabelos bem arrumados e estando bem vestida. Taí uma coisa a qual ele não resiste, mechas que caem como cachoeiras de uma fonte loura no couro cabeludo. Certa feita, ironizou que deveria terminar com uma peruca. Ironias à parte, é a mesma coisa que aquele texto que dá dez motivos os quais uma guitarra é melhor que uma mulher. Cada um tem seus prós e contras, temos de convir.
Ainda não fosse apenas esse o problema. Loiras, ruivas, até morenas que são muito comuns. Basta o famoso “rosto lindo e um sorriso encantador, e um jeitinho de falar que me pirou. Meu cabeção.”. Poesia pura do rock nacional, sim sim. Até aquelas as quais não estão em seu target, nem essas ele dispensa. É um amante de mulheres perfeitas. É sabido que para os gregos antigos, o amor estava no belo (não o cantor que foi preso). Para Vinícius de Moraes e para esse nosso sofredor protagonista, o amor está nas mulheres. Diferentemente do poetinha, esse amava mulheres enquanto gênero. Já o nosso cara prefere ir atrás das cocotas que não querem nada com ele. Nunca querem. Se querem, ele nunca chega a saber. Primeiro porque elas nunca iriam dizer, assim, tão abertamente. Segundo que, bem, é preciso um certo Sentido-Aranha pra esse tipo de percepção. Vamos fazer nossas apostas se ele tem ou não tem isso.
Mas antes de qualquer coisa, é importante retomar um adjetivo que foi citado há pouco. Dois, na verdade. Cocotas Perfeitas. Não-existem-pessoas-perfeitas-nesse-mundo-e-nem-em-nenhum-outro. Eu sei, você sabe, ele sabe, Vinícius de Moraes sabia, talvez por isso tenha casado nove vezes. É como diz o ditado, por mais redundante que seja essa construção de dizeres,: “Velhos hábitos são difíceis de se mudar, se ferra aew, nerdão”. Não é preciso ser Sócrates, que no auge de saber apenas que não sabia lhufas, para compreender que é necessário mais que força de vontade. É preciso uns tapas na cara e uma dose de compromissos sérios para pensar nesse tipo de ideia fixa.
Não quero fazer deste um texto de clichês, mas aí vai outro: “Cabeça vazia é a oficina do diabo”. Religiosidades à parte, a questão não é essa, e sim que gente de cabeça vazia pensa muitas vezes em coisas que não deveria ser pego pensando. Não deveria, não podia, enfim, não era pra pensar aquilo. Pro seu próprio bem, às vezes. Voltemos às cocotas perfeitas. Pessoas perfeitas não existem, e é sabido popularmente que meninas mais novas são inexperientes a ponto de darem graves dores de cabeça em quem ousa sentir afeição por elas. É um combo de defeitos. Mas oras, este é o nosso intrépido, bravo e destemido protagonista. Não nos esqueçamos dele. Tem autores que fazem seus heróis desbravarem terras; conquistarem outros planetas, galáxias; sobreviver num campo de concentração nazista; enfrentar o seu nêmesis numa saga de sete livros e oito filmes. Aqui, ele, o problema, não sai nem da sua cabeça. Nem sair de casa ele precisa. Em tempos de internet, redes sociais e programas facilitadores como Skype, a vida social não precisa ser off-line, embora seria melhor assim, desconectado.
Nosso paladino lv.22 assim enfrenta um de seus problemas diários, tais quais como qualquer outra pessoa normal, que tem vontades e necessidades. Fora a questão de sobreviver, ele precisa ter compromissos como trabalho, faculdade, escola (talvez), precisa comer, dormir (ou apenas tentar esses dois últimos), precisa de carinho, afeto, amizade, amor, sexo, ir ao banheiro, cortas as unhas, plantar uma árvore, escrever um livro, ter um filho. O nosso admirável mundo novo conta com possibilidades de se fazer tudo isso e mais um pouco assim, do jeito em que estas linhas são escritas, online (inclusive plantar a árvore). Quem precisa se sentar num barzinho pra se encontrar com os amigos, quando para se fazer isso alguns poréns podem surgir, tais como engarrafamentos, acidentes, flanelinhas que ameaçam riscar teu carro se você não lhes der vinte pila (e olha que eu estou sendo legal), ou ainda achar onde estacionar seu carro. Corre-se o risco, ainda, de chegar no bar, ter música ao vivo, ela ser uma droga de um cara com violão que toca todas essas músicas que caras com violão tocam (você sabe de quais estou falando), e ainda por cima tem de pagar couvert artístico dele. Não. Skype, headphone, webcam. Hangout do Google Plus também serve em ocasiões de multiplayer. Se for o caso de ouvir música o teu player tá ao teu alcance. Uma vida off-line não é necessária. Eu acho.
Este texto começou como sendo mais uma historiazinha sentimental de alguém com problemas por gostar de outros alguéns. Desenrolou, e eu nem percebi, para problemas que todo mundo tem, e terminou em questões virtuais. Eu juro que não queria abrir tantas abas assim nesse navegador, mas foi pra onde meus dedos me levaram. Sobre o protagonista? Ele vai até onde sua vida lhe levar.
Como visto em: http://blogapiazentin.blogspot.com.br/2012/09/paladino-das-cocotas.html