A SOMBRA

Não posso vê-la, todavia, posso senti-la. Ela está à espreita a espera que eu cometa um único deslize. Uma sombra negra a vigiar todos os meus movimentos e ações.

Posso _ sem muito esforço _ mensurar o que ela é capaz de fazer, pois a mesma cresceu dentro de mim por todos esses anos. Sua mente é semelhante à de um psicopata, já que guarda a capacidade de dissimular as mais vis intenções.

O vulto negro tem uma natureza egoísta e por esse motivo não sabe se colocar no lugar do outro.

Ah, deveis ainda considerar que o instinto puro age sempre no intuito de preservar a vida, enquanto o instinto orientado por uma inteligência egoísta promove apenas destruição. A sombra quer me dominar.

Até hoje tenho podido controlá-la, mas até quando, meu Deus?

A nódoa escura carrega consigo todos aqueles desejos inconfessáveis que os homens trazem no cerne da alma e que pela mesma razão precisam ser a todo instante reprimidos. Tal situação constitui uma luta sem tréguas.

Oh, sombra nefanda! Por quanto tempo tu continuarás coexistindo em meu ser? Quando poderei me desvencilhar definitivamente da tua terrível influência?

Tens aí o dualismo a se desenrolar, não no exterior, mas dentro de nós. Todos os dias bem e mal se digladiam.

Conhecer e não subestimar o poder maléfico da sombra tem uma grande vantagem: pode evitar que sejamos possuídos inconscientemente.

Agora compreendo e, portanto, evoco uma das máximas do Mestre dos mestres “orai e vigiai”.

Se todos nós temos um “lado sombra”, temos a obrigação moral de não deixá-lo vir completamente à tona.

Sim, de fato não posso vê-la, mas podendo senti-la, devo fazê-la sentir que sou mais forte que ela, porque se fosse de outro modo, creiam-me, não teria chegado até aqui.