Queria até sair de mim mesmo, mas nunca que saio,
Fico sempre preso aqui dentro esmorecendo a esmo,
Atado a algum sonho que jamais sei lá qual ou o que.
No cativeiro ermo de algum intento que ainda tento
Tendo que renovar todas as forças a qualquer tempo.
Queria essa alegria corriqueira própria dos medíocres
E talvez essa felicidade tão tola e cara dos mais insanos,
Mas não está em nenhum de meus planos toda essa coisa pouca,
Que para versejar só se minha pessoa fosse tola ou fosse louca.
Inventaram deuses e demônios para as minhas tristezas,
Tornaram impuro o que de mais puro tem o meu desejo,
E me deram essa cegueira diante de todas as belezas,
A indelicadeza de poder morrer depois de cada ensejo.

Queria tanto cantar tantas de algumas outras coisas,
Mas nenhuma das tantas outras coisas faz parte de mim.

Minha poesia podia até não ser assim este estranhamento.
Minha poesia podia ter céu, nuvens, rios e montanhas,
Podia ter mais amor, paixão e um pouco de sentimento.
Mas só tem o incômodo da incerteza e certo tormento
Esse pensamento que sempre me sai aqui das entranhas.
Porque enquanto o mundo inventa alegria contra o lamento
Eu invento de sempre me inventar em minhas coisas estranhas.
E meu olhar não sabe ver nenhuma outra coisa que não essas
Essas coisas que sei que são muito belas e nunca existirão
Não sei olhar como olham sempre que olham assim às avessas
O dia que o mundo for realmente belo minhas palavras calarão.
E eu queria não ter assim inspiração de uma poesia às pressas
E me calar se calar não fosse sofrer dessa poesia tão em vão...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 18/09/2012
Reeditado em 03/05/2021
Código do texto: T3887944
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.