Acordei muito cedo, tinha fome, comi, voltei a dormir,
Tinha fome ainda, acordei de novo, comi, sonhei, escrevi.
E ainda tinha fome e nem sei se nunca mais voltei a dormir
Ou se nunca mais acordei...
Sonhei que era sonho o que eu sonhava que estava sonhando
E me percebi tão perdido, tão distante de mim mesmo,
E tão inatingível. E quando acordei tudo acabava de ser
E acontecia e eu não via e não sabia nem onde eu estava,
Se perdido na ilusão desse sonho ou no absurdo da realidade,
Quando a verdade é só o que a gente pode ver quando olha:
Inescrutável céu, oceano imenso, devaneio intenso, profundo,
Distâncias e desertos, começo da vida, um como que fim do mundo.
E eu fico sempre. E fico confuso quando o dia amanhece.
Não sei, nunca sei
Se de fato acordei ou se embarquei n’algum outro estranho sonho.
Eu junto melhor os cacos do que tudo era só quando anoitece,
Que parece que é quando o mundo se esquece, padece e morre,
Ou apenas dorme como se não tivesse essa sede nem essa fome.
Como se fosse essa coisa incompleta que vaga por aí sem nome.
Tem um pensamento meu, insano, preso na passagem das horas,
E no virar dos dias tem sempre uma idéia minha, genial, fatal,
Coisa e tal que fica a vagar pelos obscuros cantos da madrugada,
A sonhar mais outra vez tudo de vez como tudo seria se fosse.
E eu nunca sei a que distância eu estou de tudo o que eu sabia.
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 17/09/2012
Reeditado em 03/05/2021
Código do texto: T3886027
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