Esquizofrenia

Dos olhos cegos e agudos a me seguirem colhi aos cântaros labirintos em universos tantos sem que em mim houvesse espelhos. Havia o medo, havia dedos, havia o pedido de desculpas sem que dele houvesse culpa, havia joelhos sem que deles houvesse fuga. Havia em mim dor, havia em mim flores a despetalar sonhos, havia e havia ao avesso, vida.

Vida que em seus traços esqueceu-se das trilhas, esqueceu-se da poesia, esqueceu-se das mãos a escrever céus, sóis, lua, nuvens e sorrisos.

Dos olhos esculpidos em facas a me lanharem bebi dúvidas, bebi o fel das linhas em luxuriosa agonia. Como se fossem deles, outras vidas, como fossem deles outros carmas, como se fossem deles e não minhas a sina da minha escrita, maldita...

Sina derramada em letras, em palavras, na ácida ironia de servir carne ao que deseja alma, ao que deseja da materia a essênca além do gozo.

Dos olhos em tons de susto, quase nus vislumbrei o breu, o escuro em quartos dos dias, aspirei as cinzas das frases frias. Tão lâminas, tão certeiros a fincarem em mim toda a sua, somente sua esquizofrenia.

Esquizofrenia a tecer tramas, a desenhar dramas e lágrimas nas paredes que envolvem e escorrem a cada cutelada uma alma a viver em apatia, a querer e querer cada vez mais a minha propria e dolorosa redenção alimentando, adubando e cuidando de seus delírios sem um caminho de volta, sem um caminho do meio, só "sins" nunca "nãos", nunca ouvir minhas mãos...

Almma
Enviado por Almma em 15/09/2012
Reeditado em 15/09/2012
Código do texto: T3883127
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