Démodé
Qualquer dor que sufoca
acaba virando grito fora de hora.
Ele ecoa intempestivo,
incompreensível.
Ele vaga solitário
entre buzinas,
roncos e
gargalhadas.
E então ele se cala.
Percebe sua existência vazia,
seu despropósito.
Tudo culpa do tempo.
Se não fosse sufocado
ele seria legítimo,
todos o entenderiam
e iriam ao seu encontro.
Ele teria tido um objetivo de ser:
chamar o socorro,
mostrar o perigo,
revelar a dor.
Mas agora o passear dos ponteiros
roubaram-lhe o sentido.
Se a dor ainda existe não importa.
Ele está fora de contexto.
É apenas mais uma loucura
a aturdir os transeuntes
ou como tudo que é guardado tempo demais
ele acabou se tornando apenas
démodé.