Segredos de uma apatia visceral.
Costumávamos ser tão próximos, tão íntimos, tão opostos e dispostos e ao mesmo tempo tão iguais e preguiçosos que éramos um só.
Os opostos se atraem e logo se distraem. Os iguais se repulsam e logo se aproximam.
Somos opostos, somos iguais, somos estranhos.
Fomos opostos, fomos iguais, hoje somos apenas dois estranhos com o hábito de conversar todos os dias sobre coisas que se quer existem ou existiram.
Somos dois pontos interligados por uma linha circular que continua movendo-se por aí sem nosso consentimento, perdido em um espaço de tempo infinito.
Uma amizade dissimulada, uma tolerância fingida, uma necessidade recíproca e incompreendida de convivência entre si.
Um amor profilático e procrastinado que deseja manter distância desviando-se da reprodução do sofrimento absorto.
Mas que sofrimento?
Sofrimento foi somente o receio ávido por dor, que nos tornou hoje em dois ignorantes transtornados e receosos de tudo.
Somos singulares.
Somos plurais.
Somos diminutivos e somos aumentativos.
Somos dois passageiros lacônicos do trem desequilibrado e sem motorista que é a relação prolixa entre os seres humanos, o amor e o ódio.
Somos dois desconhecidos assíduos à procura incessante de deterioração do nosso amor como solução para tudo em nossas vidas.
Somos dois amantes remotos à procura incessante de deterioração de nossas vidas como solução para todo o nosso amor.