RUAS
Hoje tenho experimentado
a dor de sentir ausências.
Precisei ter quem ao menos me ouvisse,
mesmo eu não tendo nada a falar.
Meu coração ecoava igual sala vazia:
e este é o meu maior tormento
de arrastar correntes.
Expectativas cresceram em mim
como mandíbulas de lobos
que tudo rasgam
e dilaceraram meu peito quando,
da janela arranhada,
divisava a rua escura;
a rua e seus fantasmas;
a rua e seus terrores;
a rua e meus medos.
Me senti rua!
Rua sem brilho, sem uso,
sem barulho e sem zelo.
Me senti rua povoada de mistérios.
Se há rua, há viajores;
Se há rua, há passantes...
Porém, passar não é o mesmo
que permanecer.