O Sertanejo

O sol abrasador calcina a terra sem piedade,

As plantas, pouco entendendo,

Parecem transferir suas dores

Para as folhas,

Que esmaecem e caem no chão calcinado.

O sertanejo olha pro céu e vaticina:

Vai chover!

Os pequenos animas,

Ensaiam uma sinfonia de urros sedentos –

Não tem água.

Ao longe,

Uma nuvem de poeira se levanta –

É o vento seco que sopra a terra.

O sol se esconde,

Chega a noite e a chuva não vem.

Desolado e com a esperança minguada,

O bravo homem do sertão,

Alenta-se numa prece a Deus,

Implorando clemência e piedade,

Para sua dor sem fim.

Choramingando pelos cantos,

Prenunciando a fome,

Os filhos denunciam a dor.

Que não sai nos jornais.

Desnutrida e com os seios caídos pelo peito,

A mulher prepara no fogão à lenha,

Uma farofa d’água que,

Com ovos cozidos,

Afugentará a fome maldita,

Pelo menos naquela noite.

Madrugada,

O calor umedece os corpos deitados em suas redes,

O corajoso nordestino brasileiro,

Abre a janela frontal de sua casa,

Procurando arrefecer o calor,

Vai ao encontro do pote d’água salobra.

Toma meio litro de água

E sai de casa.

Precisa procurar água.

Para abastecer sua casa.

No jumento,

Coloca os arreios e duas ancoretas

E vai...

Ao som do notívago bacurau,

Que mais ainda entristece a barra,

Com seu canto triste,

Ante ainda a pouca luz.

De um céu estrelado,

Que prenuncia mais um dia de sol ardente.

Por entre as brenhas,

Fraco e impotente,

O homem pára.

Olha pro céu.

Certo de mais um dia cruento e,

Sem motivos para sonhar.

Inicia um monólogo com Deus,

Com voz trôpega e com lágrimas nos olhos,

Balbucia as únicas palavras que ainda consegue pronunciar,

Na esperança de uma resposta de quem nunca lhe responde com palavras:

Meu Deus, tenha piedade de mim!

Rui Azevedo
Enviado por Rui Azevedo em 07/09/2012
Código do texto: T3870557
Classificação de conteúdo: seguro