O CODEGA
Sentada à beira do canal, ela olhava embevecida a bela paisagem.
Tarde morna, aves planando sobre a água, outras a voar de encontro ao céu.
Fechou o livro que trazia entre as mãos. Um romance, um bem escrito conto de amor. Mas, a natureza a chamava. E ela, não conseguia nunca recursar aquele apelo.
Olhou detidamente tudo à sua volta, e deixou o olhar recair sobre as gôndolas que na superfície da àgua descansavam.
As águas daqueles canais, sabiam de sua história. Ela, sempre vinha ate as margens, confidenciar seus segredos, dores, amores, perdas.
Ah, como amava aquela cidade que flutuava!
Os bailes de máscaras, a magia que havia nos salões, a elegância, a beleza dos trajes e das luzes dos lampiões.
Para acompanhá-la pelas vielas estreitas e escuras, um Codega era contratado para caminhar à frente dela, com uma lanterna na mão, com a missão de clarear o caminho das ruas de Veneza, e espantar com a luz, os ladrões e demônios.
Um vento mais forte fez as gôndolas ali presas, moverem-se, e a tiraram das lembranças de outrora.
Muita coisa mudara, alegrias viraram tristezas, sonhos antigos se transfomaram dando lugar a outros novos. Algumas ilusões viraram desilusões. Como aquele Codega, por quem se apaixonara perdidamente. Ele não somente iluminara a rua, mas acendera a chama do amor que existia dentro dela.
Porém um dia ele se foi, sem nada dizer, deixando em seu coração o gosto amargo da saudade.
Olhou o cenário, e balbuciou: "Somente você bela Veneza, não muda nunca, permanece sempre mágica".
(Foto da autora- Veneza)