Ser ou não ser. Eis a questão.
Sou o desencontro, o avesso, a impossibilidade. Sou a bipolaridade. Sou o começo e o fim. Sou o contrário, o cenário de mim. Sou o que sou, sou o que fui e o que ficou. Sou o que foi e se aprisionou em você. Sou o que quero ser. Sou, enfim, o que bem entender. Sou a poesia sem rima na métrica errada, sou a prosa ás avessas, sou a madrugada. Sou o café amargo, o rádio ligado e o chiado do vento. Sou a lua que sorri por nada. Sou o pensamento. Sou a desistência, a ausência e a saudade. Sou a vontade de ser imperfeita e só. Sou o nó. O Dó desafinado. Sou o verso abandonado. Sou a estrada comprida, a estrela colorida, o céu em desalinho. Sou estranho, estranho passarinho. Sou coração em pedaços, sou o laço, o abraço. Sou o distante, o escasso. Sou o silêncio da dor em que me refaço. E disfarço, sem saber por onde ir. Sou o ficar com vontade de ir. Sou a ironia e a agonia de querer. Sou a nostalgia que eu tento esquecer. Sou a lembrança, a infância e o enlouquecer. Sou o acorde, a melodia inacabada. Sou eu, eu e mais nada.