AGOSTO JÁ VAI TARDE...
Por Carlos Sena
Por Carlos Sena
Amanheci com gosto amargo na boca. Ah, gosto! Por que os ventos fortes não te levam para as terras de além mar? Quem dera as águas de março pudessem me lavar a alma e adocicar minha boca que a maresia insistente e fria não desiste?
No trato do seu rosto, encontro o gosto doce do amor que se prenuncia enquanto lá fora a noite está mais fria, típica dos meses de agosto. Lembro, no acariciar os cabelos imaginários do amor que perdi numa quarta-feira de cinzas: todos caminhavam rumo à igreja da Boa Vista, na Praça Maciel Pinheiros – a mesma praça que um dia Clarice Lispector se sentou num banco para apreciar o carnaval. Lá, fizemos um trato: a gente assistiria à missa, se confessava, tomava cinzas e partia em lua – não sei se de mel, mas de São Jorge cavalgando sonhos. Ainda vestido de Pierrô, esperei até o dia se entregar a rotina e ela não veio.
Envolto num edredom pela tentativa de agasalhar do frio de agosto, lembro-me desse desgosto que no carnaval me desfolhou a fantasia de um dia ser feliz ao lado dela. Mas, eu nem sequer soube dela sequer o nome. Só sabia que seu beijo foi bom, que o amasso foi bom, que seu olhar foi profundo e que nossas almas tinham sintonia que não era só pra três dias de carnaval. Igual o mês de agosto – esse amor ficou em minha mente cheio de ventos frios, de aziagos pensamentos bem a caráter desse mês. A quarta-feira de cinzas daquele ano ficou na minha mente como um amuleto às avessas, diante da contradição do carnaval e da minha tristeza imperialista. Eu, um pobre Pierrô e ela uma Colombina verdadeira, cheia de encantos, mas, que se foi embora como purpurina no primeiro clarão do dia. Vocação de Colombina ou apenas uma rima pobre com a purpurina?
Fevereiro passou. Naquele ano o carnaval foi nesse mês. Aguardei março e com suas águas não veio minha Colombina. Tomei banho de chuva como nos velhos tempos de criança; soltei barquinhos de papel com recados pra ela, mas e ela? Não me dei sinal até hoje. No meu guarda roupas ainda sobrevive minha fantasia ainda sem ser lavada, como que por medo de misturar meus sonhos em água e sabão e depois ser passada a ferro. Meu rosto eu lavei com água benta daquele dia da missa de cinzas que ela me deu “bolo”, mas meu coração continua insistindo para que eu espere outro carnaval. O meu medo é de que meu amor tenha sido um sonho de marinheiro – navio apitou vai embora...
Espero setembro chegar para mandar flores pra Iemanjá. Manjar dos deuses de Afrodite, Apolo e similares da minha constelação anárquica. Flores de Maio para fecundar mais rápido meus anseios de carnaval. Espero setembro. Xô agosto. Que venham as flores, a fotossíntese; que venha o inevitável; que venha tudo, mas que não deixe de vir a esperança de novo carnaval e de nova quarta-feira de cinzas pela certeza de que a esperança é a primeira que não deve morrer...
No trato do seu rosto, encontro o gosto doce do amor que se prenuncia enquanto lá fora a noite está mais fria, típica dos meses de agosto. Lembro, no acariciar os cabelos imaginários do amor que perdi numa quarta-feira de cinzas: todos caminhavam rumo à igreja da Boa Vista, na Praça Maciel Pinheiros – a mesma praça que um dia Clarice Lispector se sentou num banco para apreciar o carnaval. Lá, fizemos um trato: a gente assistiria à missa, se confessava, tomava cinzas e partia em lua – não sei se de mel, mas de São Jorge cavalgando sonhos. Ainda vestido de Pierrô, esperei até o dia se entregar a rotina e ela não veio.
Envolto num edredom pela tentativa de agasalhar do frio de agosto, lembro-me desse desgosto que no carnaval me desfolhou a fantasia de um dia ser feliz ao lado dela. Mas, eu nem sequer soube dela sequer o nome. Só sabia que seu beijo foi bom, que o amasso foi bom, que seu olhar foi profundo e que nossas almas tinham sintonia que não era só pra três dias de carnaval. Igual o mês de agosto – esse amor ficou em minha mente cheio de ventos frios, de aziagos pensamentos bem a caráter desse mês. A quarta-feira de cinzas daquele ano ficou na minha mente como um amuleto às avessas, diante da contradição do carnaval e da minha tristeza imperialista. Eu, um pobre Pierrô e ela uma Colombina verdadeira, cheia de encantos, mas, que se foi embora como purpurina no primeiro clarão do dia. Vocação de Colombina ou apenas uma rima pobre com a purpurina?
Fevereiro passou. Naquele ano o carnaval foi nesse mês. Aguardei março e com suas águas não veio minha Colombina. Tomei banho de chuva como nos velhos tempos de criança; soltei barquinhos de papel com recados pra ela, mas e ela? Não me dei sinal até hoje. No meu guarda roupas ainda sobrevive minha fantasia ainda sem ser lavada, como que por medo de misturar meus sonhos em água e sabão e depois ser passada a ferro. Meu rosto eu lavei com água benta daquele dia da missa de cinzas que ela me deu “bolo”, mas meu coração continua insistindo para que eu espere outro carnaval. O meu medo é de que meu amor tenha sido um sonho de marinheiro – navio apitou vai embora...
Espero setembro chegar para mandar flores pra Iemanjá. Manjar dos deuses de Afrodite, Apolo e similares da minha constelação anárquica. Flores de Maio para fecundar mais rápido meus anseios de carnaval. Espero setembro. Xô agosto. Que venham as flores, a fotossíntese; que venha o inevitável; que venha tudo, mas que não deixe de vir a esperança de novo carnaval e de nova quarta-feira de cinzas pela certeza de que a esperança é a primeira que não deve morrer...