FRAGMENTOS DE DOM HÉLDER CÂMARA

  Durval Carvalhal




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          “[...] Abrir-se às ideias, inclusive contrárias às próprias, demonstra fôlego de bom caminheiro. Feliz de quem entende e vive este pensamento: “Se discordas de mim, tu me enriqueces” [...] Para as minorias abraânicas, partir, caminhar significa mover-se e ajudar muitos a moverem-se no sentido de tudo fazer por um mundo mais justo e mais humano [...] Mas os homens se dividem e se chocam, e a união se torna ainda mais difícil porque há interessados nos embates, nos choques e nas guerras [...].
          Homens de boa vontade, do mundo inteiro, abracemo-nos, como prenúncio dos dias de paz anunciados pelo profeta [...]. Abram os olhos e se passarem perto da praia, olhem o mar. Se passarem perto de rios, olhem as águas que descem mansas e contemplem, por um instante, lavadeiras que lavam roupas ou crianças que se banham e brincam n’água [...]. Não julgueis e não serás julgado [...]. Para julgar, seria necessário estar dentro da criatura e acompanhá-la, desde o nascimento, medindo as influências positivas e negativas que condicionam o procedimento de hoje [...].
          Mas a graça das graças é não desistir [...] porque a Inteligência é incapaz de aderir ao erro total [...]. Entretanto, quem opta pela justiça e pela mudança das estruturas que escravizam, no mundo de hoje, milhões de filhos de Deus, prepare-se para ver o próprio pensamento distorcido; para ser vítima de difamação e de calúnias e, quem sabe, ser preso, torturado ou até eliminado [...].
          O artista costuma ser aberto ao humano, à justiça, à liberdade [...]. Artista, tua grandeza está na vibração total com que te entregas às tuas criações e na decepção e quase desespero com que medes a distância infinita entre o teu sonho desmesurado e a realidade que consideras inexpressiva [...].
          Os poetas ajudaram a estigmatizar a escravidão negra. A escravidão continua, poetas! Mas de dois terços da humanidade são escravos da fome, da falta de saúde, do analfabetismo, da ausência de preparo profissional, da ausência de trabalho livre, da ausência de perspectiva e de esperança [...]”.

          OBS: Fragmentos da simbiose dos livros Um Olhar Pela Cidade, O Deserto Fértil e Mil Razões Para Viver de DOM HELDER CÂMARA.

 
Durval Carvalhal
Enviado por Durval Carvalhal em 30/08/2012
Reeditado em 11/08/2017
Código do texto: T3857234
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