Borboletário

E então senti um borboletário. Em cima da mão, perto do travesseiro, dentro do peito. Uma angústia que há muito não me sondava, fiquei exposta à lembrança. Miúda e medrosa me senti. Até parece fruto de uma injustiça, seja ela de qualquer natureza, mas, em verdade, todos sabem que é apenas um sentimento que está caminhando para seu desaparecimento. Quem ficaria feliz? Ele também não. Descolei-me do sentimento para escrever. Assim, parece ser algo que não me pertence, e assim consigo manter-me salva. Vai-se o sentimento, e a saudade me deixa em paz. É essa a paz que se faz necessária, aquela que não nos sequestra o coração e nos encaminha para outro rumo. É esse o sentimento que nos faz completos ou, ao menos, conscientes de nossa incompletude. Damo-nos a chance de olhar ao abismo, flertar, e dançar ao seu som, com ele. A chance de haver retorno à cama, onde um borboletário, por algumas vezes ainda, poderá nos visitar. Mas é isso, é ela. A saudade. Não a nego, vivo. A sinto. E me quebro. Mas o flerte com essa doce estranha me tornará sua amiga íntima, e assim posso conhecê-la melhor, visita a visita. Até que sutil camaradagem já começa a me dar o prazer da companhia.

Adriana Policarpo
Enviado por Adriana Policarpo em 30/08/2012
Reeditado em 09/12/2012
Código do texto: T3856702
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