TRIBUTO
Olho o mar que não tem fim ao mesmo tempo em que sinto a vida se esvaindo em mim. Sinto o cheiro podre da morte. Ela se aproxima, me olha, me estende a mão. Eu não a quero, não desejo ir! Tantos planos, tantos horizontes por explorar, tantas oportunidades que ainda virão... As ondas do mar dançam minha dor. No meu corpo ainda grita a vida que carrego. Desespero-me! Não fosse minha tão grande vontade de viver, me entregaria rápido nas profundezas do abismo onde meu corpo voaria ao invés de entregar-se a terra onde apodrecerá. Não quero apodrecer. Quero viver! Os céus já não me ouvem mais, têm em seus ouvidos o som do silêncio dos ventos, bem melhores que meus mortais lamentos.
Olho o mar. Suas ondas entregam-se em atos de amor. Desmancham-se na volúpia dos amantes às profundezas do oceano. E ali se recriam, renascendo de suas mortes com a força que lhes garante a vida. Alimentam-se de seus próprios espíritos. Morrem em si mesmas e renascem do amor que lhes inspira. Cantam suaves melodias e vibram na maresia. Tocam meu rosto, meu corpo num aspergir de purificação. E como em ato de contrição, fecho os olhos e entrego-me à brisa que me toca, e torno-me amante das águas. Sinto em minhas entranhas o grito que abafo com minhas lágrimas. Não quero mais gritar. Sou silencio! Vejo o mar e o mar não grita. Não há lamento no mar. Só amor e nostalgia.
O dia se vai, mais um dia. E nesse dia que finda, olho a vida no mar. O sol mora no mar. Deita-se em suas águas como o amante no corpo da amada. Seu calor aquece as águas e nesse ato de abandono me entrego também. Não grito nem lamento, apenas entrego-me na sutileza em que me leva o momento. Vou morrer, eu sei. Mas olho o horizonte e vejo vida ali. Vejo a morte e ela me vê. Olha para mim e me estende a mão. Eu a olho, cabeça erguida. Já não me desespero, não tenho mais medo. Seu cheiro podre já não me assusta mais, pois vejo o horizonte que espera por mim além do mar.
Aos que ficam desejo apenas que olhem o mar. Eu olho o mar, suas ondas entregam-se em atos de amor...
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