Até o mundo acabar...
Ela estava inquieta. Horas mais cedo ela recebera um buquê de tulipas amarelas com um cartão que dizia: "Pra você: um buquê de minh'alma inteira...". Ela sabia que quando acabasse o expediente do trabalho ele faria-lhe uma visita. Ela queria isso, mas também não queria. Ele a havia magoado. Muito. Ela queria conseguir odiá-lo com todas as forças que alguém poderia sentir, mas acontecia justamente o contrário. Ela o amava. Muito.
O relógio atrás do balcão da cozinha marcava seis da tarde. Contando com uma passadinha rápida em casa pro banho, ele chegaria em sua casa às sete. Parecia minutos intermináveis. Ela estava ansiosa. Ele, do outro lado da cidade, também. Finalmente o relógio marcara sete horas. Ele estava atrasado. O relógio também, conferia ela. Ela, ao terminar de aprontar o café, serviu-o em duas xícaras que estavam em cima do balcão. Eles tinham o costume de tomar café simultaneamente. Aquela foi a primeira vez que ela tomara café sem os risos, toques, olhares dele. Ela olhara para a cadeira à sua frente, e esta, continuava vazia. Ela, levada por devaneios, sentiu um vento frio entrar pela janela. Levantou-se para fechar.
Ela: -Droga! Emperrou...
Disse ela ao tentar fechar a janela que trouxera o vento frio...
Ele: -Deixe-me ajudá-la...
Ela tomou um susto ao vê-lo ali.
Ela: -Não vi você entrar. Que susto!
Ele: -Desculpa, eu ia chamar mas... Prontinho, janela fechada!
Eles se sentaram ao balcão para conversarem. Ele percebeu que ela havia posto café para ele também, como de costume, e disse:
- Está frio...
- É que você demorou pra chegar e...
Antes que ela terminasse a frase, ele disse:
- Então você me esperou?
- Não exatamente. Eu apenas sabia que você viria e...
Novamente, ele a interrompeu antes que terminasse, e disse:
- Que bom que você me esperou. Eu esperei o dia inteirinho por este momento...
( Silêncio).
Ele continuou:
- Eu errei, reconheço isso. Mas quando dei por mim, me vi dependendo do seu sorriso para ser feliz.
- Para com essas frases decoradas... Meu amor por você é como este café...
- Forte?
- Frio.
( Silêncio).
- Não é verdade. Você ainda me ama. Não me receberia aqui se ainda não me amasse.
- Não. Eu te amei, mas já passou... E a culpa é minha por ter te amado muito mais do que eu aguentaria sofrer...
- Eu quero me redimir, desfazer este sofrimento... Me deixa te provar isso, dê esta chance a você, a mim, a nós...
Ela, sem aguentar mais segurar, caiu em lágrimas...
Ele, apesar de não derramar lágrimas, caiu ao choro, por dentro... Abraçou-a. E permaneceram ali, trocando silêncio, abraçados... Depois de alguns minutos, ela, ainda emocionada com voz de choro disse: Nunca mais parta de mim... Por favor...
Ele, também emocionado, disse em resposta:
Nunca, nunca... Te amarei de janeiro a janeiro, até o mundo acabar...
Ele se levantou então, recolocou o café nas xícaras, e recomeçaram uma nova etapa de suas vidas, com o amor ainda mais forte, mais denso, mais puro... Tomaram pela 'primeira vez' o primeiro gole de café simultaneamente... E aquele amor, pelo que tudo indica, será eterno, bem cuidado por ambas as partes...