Peixes do delírio
Delirei outrora, deleitada em águas calmas e profundas, de uma escuridão encantadora.
Agora, afogada nas mesmas águas, choro rios de profusão intensa, sonhando acordada com o momento da libertação funesta.
Me perdi nos caminhos obtusos da lírica latina da pesca perversa, sem considerar os riscos do mergulho de cabeça.
Agora, minha cabeça em redemoinho reconsidera a própria estupidez, desejando de toda a alma encharcada um milagre; uma pílula do dia seguinte que me abortasse todo o coração desiludido.
Antes, queria engolir a vida sem nem sentir o gosto. Mas agora posso perceber que ela nunca teve gosto para ser sentido, pois tudo foi obra do placebo. Açúcar, no lugar de medicamento.
E nem mesmo as águas que me banhei foram águas verdadeiras. Eram todas de mentira; do lago de lágrimas que eu mesma chorei e choro.
A torneira está quebrada e não há como fechar o fluxo.
Quando as águas salgadas de mentira vão parar de rolar?