UM SIMPLES OLHAR
Não sou capaz de contemplar as rosas murcharem sem sentir tristeza. Elas apesar de tão belas, retratam a vida com sua fragilidade e a maratona do tempo. Por mais que ouça que a vida é bela e por isso mesmo precisa ser vivida, percebo nossa incapacidade de vive-la em toda plenitude.
Estava certo dia caminhando numa área onde reinava a natureza, vi uma roda d’água enfrentando a fúria do tempo. Percebi que ali havia uma história e me deixei levar pela imaginação. Águas passadas não movem moinho, ou melhor, não movem roda d’água. Verdade incontestável que podemos trazer para nossa realidade. Quantas águas passaram por aquele instrumento e quantas vidas foram beneficiadas por ela? Quais braços usaram sua força e moldaram aqueles troncos até que assumissem a forma que ali estava? O tempo não pôde destruir a roda d’agua, mas as águas que por ela passaram realizaram sua tarefa, depois se foram, para nunca mais voltar.
E que semelhança pode haver entre a fragilidade das rosas e o vigor da roda d’água? As rosas com sua beleza inigualável não escondem os espinhos que tem, mas nem por isso deixam de ser as preferidas das flores Elas são escolhidas para expressarem os mais belos sentimentos. Nessa hora, esquecem-se os espinhos, apesar de saber que suas picadas doem. Deixamos de escolher as rosas por esse motivo? Não. Valorizamos cada vez mais seu perfume e nos deleitamos simplesmente pelo olhar. E ao sentir suas pétalas quantas lembranças um único botão de rosa trás. Volto o meu olhar para a roda d’água, e percebo, apesar de tantas águas que por ali passaram, nem por isso as pessoas deixaram de continuar a usufruir da roda. Outras águas por ali passaram e a roda continuou a trabalhar.
Na vida muitos momentos podem ser comparados às águas que fazem a roda d’água girar. Porém, se formos olhar para as águas que passaram perderemos àquilo que as águas do momento podem nos proporcionar. Olhar para trás ou se lastimar pelo que passou não conserta nem trás de volta, tão pouco minimiza a dor... O passado não move a roda d’água da vida. Olhar para o mesmo invocando sua presença no presente, faz apenas reviver o que já passou e deixar de viver usufruindo da beleza das rosas que a vida, HOJE, está a nos presentear.
23/08/12