Insônia

Insonia

reginaLU

É noite avançada!

Todos dormem...

Há fantasmas em mim...

A vontade é de perambular pelas ruas, arrastando as correntes que me prendem à condição humana, na esperança de que algo aconteça, que as rompa para sempre.

Enfrentar as trevas do desconhecido, fechar os ouvidos às bocas que torturam, sem sons para confortar.

Repentinamente é possível perceber que essas vozes são minhas.

As noites insones têm sido amigas.

Quase todas, agitam-me o ser, como o fazem imensos vagalhões a fustigar a praia.

Judiam, causam espumas encardidas, sangramentos em antigas feridas.

Trazem à tona, tesouros e feras das profundezas dos céus e infernos interiores.

Mas é nisso tudo que reencontro a paz, que a agitação rouba da cidade grande.

Descanso nas madrugadas, o espírito, que no dia a dia, se envolve na correria de viver.

Brinco de Poliana, fingindo contente, em sonhos despertos.

Mergulho de vez no doce silêncio da noite. Espio pela janela, sem barulho, como que temendo despertar os que dormem.

De certa forma, sinto-me responsável por todos.

É como se, por dormirem, estivessem vulneráveis...

e eu pudesse, vigilante, proteger.... prevenir... zelar...

Suspendo a respiração... é bom sentir que há controle sobre ela.

Acima de tudo é bom sentir-se viva...

E os sonhos têm tudo a ver com isso.

Repouso em tudo que da esperança, sobrou em mim.

Num instante de incrível lucidez, sinto-me muito leve e capaz de penetrar as mentes.

Recordo sorrisos, releio os escritos, faço minhas as suas palavras, trago imagens, bocas, mãos, cheiros...

Calor no estômago!

Assopro folhas imaginárias que estão se desprendendo dos meus outonos...

E elas caem mansamente, apenas tocando o nariz que teima em penetrar mistérios que não são da minha conta...

Descubro razões para amar a vida e viver...