Revelação I
Quão desconexos e inseguros sobrevoam os pensamentos sobre mim! Veja, pois, o estado em que me encontro ao contemplar o fim dos nossos dias! Sim, de todos os nossos dias! Sim, os dias de todos nós!
Qual colônia de formigas esmigalhadas pelos pés traiçoeiros de uma criança descobrimos nosso destino aqui, à beira do abismo do caos, e o caos nos consome. Gostaria eu que os nossos dias fossem perfumados com o frescor da terra virgem, mas já não há o cheiro da terra virgem, pois, pobrezinha, foi violada. E assim como foi violada a terra outrora virgem, também foram violados os pensamentos dos homens, e agora estão todos apodrecendo ao sol, sobre um altar, como sacrifícios nunca ofertados à uma divindade que nunca sequer conhecemos. E nos aprofundamos em nosso caos, cavando tão fundo e com tamanha voracidade que já não sabíamos mais diferenciar as trevas que nos atormentava de nossas próprias almas.
E por que desconhecíamo-nos, acabamos por nos tornar a personificação de nossos piores pesadelos noturnos. Eu, em particular, almejo tais pesadelos, pois reencontro-me constantemente com a imagem de um eu transformado, e tal confusão é que me permite viajar por entre pensamentos desconexos e inseguros que sobrevoam-me, como aves de rapina, como lobos sedentos pela carne de minha alma.
Eu, sinceramente, nunca quis que acabasse assim... Não até agora...