pintura/detalhe      (Memoriais de Sofia/Zocha)
Lilianreinhardt

                  Zocha sentia  que havia alguém   sentado sobre aquela bancada branca. Cortinas semi abertas, uma voz suave e melodiosa ressoava entretanto de forma austera aos seus ouvidos: - Voce sabe quem sou eu! - Sim,  feliz que esteja  aqui, assentiu a polaca - Continua o seu trabalho menina, é preciso terminar de tecer esse pulover ...
completou a voz. Zocha passava o fio sobre as agulhas da pesada Lanofix  e a malha ia apontando, deslizando sobre o impulso hábil de suas mãos. A bancada era rústica, feita a machado, Frau mãe a fizera com toda a sua força e a pintara de branco para que a tecedora de Zocha recem adquirida a prestação em trinta e seis meses pudesse ali funcionar, não havia condições economicas
de adquirir outro suporte para colocá-la. Aquela menina parecia com a bisavó que tecia luvas com cinco agulhas. Uma réstia de luz e Sofia desaparecia no Jardim da casa da Água Verde. Chovia a cântaros quando o dia amanheceu passarinhando ventos e no lugar da tecedora na bancada a jovem Zocha datilografava seus trabalhos de faculdade numa pequenina Elgin Brother portátil  sobre a rústica bancada de madeira pintada de branco. Entre os resumos de Direito das Gentes, (Jus Gentium) , ela percebeu que  lágrimas escorriam sob o vitral de seus  olhos...  águas escreviam o   poema... Da bancada branca a água pura e cristalina vertia-se...e teciam-se  os fios d'água turva na roca...hálito da vida ainda menina...água de suas águas...


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