Um deus mortal (Caravaggistis)

Foi apenas um sonho de trinta e nove anos, diante de um Caravaggio na ceia em Emaús

Estamos em 1608, São João Batista admirado, um outro deus decaptado

Em Malta, atraquei-me por uma noite; sonho, vi o autorretrato de Baco

Nele, pessoa ilustre sorrindo sarcasmo, repouso na fuga da taverna imunda

Me acenando, sobre a carruagem aberta, pessoas apontando-me fé

Encontrem-me na multidão, estou passando, estou de pé...

Sustentado por ela e fui mordido por um lagarto, trouxe dúvida à São Tomé

Pessoas, pessoas e mais pessoas pedem-me obras sacras; um cachorro morreu no incêndio

O fogo se espalhou pela galeria; espalhem seu amor por aí; quebrem as molduras e depois...

... Me amem, levem-me para a cidade, além da escultura branca

Castidade, de braços abertos, coloquem-na num pedestal

Onde as flores brotam, ouro e prata reluzem... Soberbo uso das sombras

... Você se lembrará dela quando o vento soprar nas cores do mar, no movimento das ondas

Enquanto caminhamos entre puristas e ascetas, quinhentos anos depois, outro ritual...

Ao que parece, morreu de febre na busca pelo perdão, caindo diante da disciplina espiritual

Um deus mortal, tola divindade, que matou um homem num duelo

E levou o seu amor para contemplar um pouco, o nobre ser mais belo

Vejo campos de cevada, vinículas espalhadas, cerveja entre uvas esmagadas

Artesanais, nos caminhos, caiu nos braços dele enquanto seus cabelos se soltavam

Percorro os campos, uvas; um jovem com um cesto de frutas, taças de ouro e copos de cerveja espumam ao sol

Vê-se, entre o vento, o belo sacro se mover como um amante noite adentro

Flutuam, delirantes, sentindo o corpo se elevar num beijo, a morte da virgem, desejos...

... Retratados, rejeitada a encomenda que chega do Egito

Outra fuga, nunca fiz promessas levianamente

E, houve algumas que eu não cumpri, descaradamente

Muitos anos se passaram desde aqueles dias de pincéis e tintas, sombras e luzes envolventes

*Homenagem ao pintor Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571 – 1610) e suas obras:

Ceia em Emaús 1601

A decaptação de São João Batista 1608

Autorretrato como Baco 1594

Menino mordido por um lagarto 1600

A dúvida de São Tomé 1602

Jovem com um cesto de frutas 1595

A morte da virgem 1606

Repouso na fuga para o Egito 1595