Fugiram as letras
Fugiram as letras
Baudelaire rimou langue com sangue
Que poeta pode ser capaz de superá-lo?
O forte com o fraco é fácil não ser constante.
Porém, parecer perfeito, com efeito, é o distante!
Nas sombras dos versos vis, o poeta finge mal,
Descobre o véu frio da noite, separa água do sal.
Pode ser que seja implícito seu domínio, seu aral.
Nas mãos que produz a seiva no campo o pão paternal
Seus filhos querem mui cedo, sua herança seu quintal;
Para usurpar as pérolas, que não plantaram um aval.
Poetas que vivem muito perdem o senso do ser
Esquecem o que não souberam, e morrem sem perceber.
Se vivesse mais um ano, não teria o que dizer,
Fugir-me-iam as palavras! Nem letras queriam me ver.
Brasília 16/02/2007
Evan do Carmo