Camadas
Retiro mais uma camada de pó de sobre as louças límpidas. Lavo copos, taças, jarras compulsivamente. Quero brilho!
Lavo as paredes agora e o chão, e um frenesi me toma. Quero tudo limpo!
Tomo um banho tão profundo que sou capaz de pensar que lavo além do corpo, minha alma. Quero que reviva!
Louco desatino esse, querer tudo no lugar certo, como se a vida assim o fizesse. Tola mil vezes tola eu que me dispo de tantas camadas e não me encontro mais.
Bato os tapetes, sacudo toalhas, ponho flores na janela, mas não estou mais em nada disso.
Depois me perco nos varais de roupa lavada, como se num imenso labirinto estivesse, no entanto, não me encontro mais.
Envolta em camadas de sedimentos, sentimentos e devaneios, persiste um destempero... onde já não me encontro mais?
Stelamaris