Amor tardio
''É um tipo estranho de amor.Cada vez que ele bate a porta, não tenho como não deixá-lo entrar.Acho que não amei no tempo certo.Deixei-o em mim, num processo cruel de coma.Tapei os olhos e os ouvidos, escondi e o trancafiei.
Mas vejam só.No fim eu estava certa.Ele é perigoso.Ele tem um gosto doce e amargo, um abraço seguro e confortador, um sorriso encantado e encantador...E o pior de todos os piores:Ele tem meu coração.
É dele.É tudo dele.Sempre foi.
Mas agora é tarde demais.As águas rolaram, os ventos sopraram e os anos não nos perdoaram.As coisas mudam, passam, as pessoas morrem várias vezes em uma só vida.
Meu garoto morreu, acabo por descobrir.Esse não tem mais o mesmo gosto, não tem mais o mesmo abraço e não tem mais o mesmo coração, apesar de ter mesma face.Agora ele mente, agora ele nem sente mais o que sentia, eu sei.Agora ele ilude, ele joga com os jogos dos outros.Agora ele finge...E tão bem!
Meu amor tardio já não serve pra esta ocasião.Porque meu garoto envelheceu, só eu continuei menina.Só eu continuei doce e amarga, frágil e desprotegida, encantada por um sorriso que eu não quis no tempo certo.Só eu continuo com as mesmas manias bobas e as frases tolas de sempre.
E então alguém bate à porta.E, apesar de prometer ignorá-lo, eu o deixo entrar denovo e mentir pra mim mais uma vez.''