Plateia Ausente



Cortinas esfarrapadas denunciam a precariedade do palco diante do cenário empobrecido  e a marcante ausência da plateia.

Ainda assim teimosos  atores se esforçam para
manter o espetáculo.

Tentam  a todo custo  inovar o impossível com as
vestes da esperança, figurino fora de moda superado pela realidade.

No roteiro  decepções cercadas de  solidão, angústia, pranto, ausência de amor e nostalgia impõem  aos atores   vestir os personagens  para a cansativa comédia.

Máscaras do riso espalhadas, vestes coloridas de sonhos salpicadas, espelhos imaginários capazes de converter   semblantes    na expressão da felicidade – (aquela que fora de cena jamais provaram),  faz  parte do arsenal
de recursos para que vidas a reboque possam provar o existir.

Vez ou outra  incentivados pela vil metal percebem-se os atores rodeados de público.

Sobram  sorrisos, abraços, pedidos de autógrafos, convites para apresentações, elogios, aplausos.

Insanos perdem o norte acreditando  na mágica
receita do sucesso, provam a alegria, arriscam dizer
que encontraram a felicidade.

 No repetido enredo adormecem sob o som dos  interesseiros aplausos,  para despertar na medida
em que o metal se esvai o mais profundo abandono,
tudo volta a ser como antes.

Envoltos nos braços da fantasia  aprendem a duras penas vivenciar os poucos momentos da comédia m
esmo sabendo que  na próxima cena deverão
representar a tragédia.

Do riso ao pranto um salto rápido.

Na gangorra da vida nem sempre do outro lado se
tem o equilíbrio.

Cansados  dos extremos,  a vida impõe   o retorno
ao  palco,  o espetáculo não pode parar.

 À revelia pobres atores refazem o cenário,  retiram
a poeira  das poltronas,  pintam os porta-retratos, constroem escadas, acendem as velas das
expectativas, distribuem cortesias, mudam as
melodias.

Providencialmente  inserem no  roteiro rabiscado,   semelhante a um primário rascunho falas de
esperança emolduradas pelo sol pintado de laranja.

Nas filas da bilheteria  cansados espectadores
buscam  ilusoriamente   encontrar a mesma felicidade representada  no  palco.

Espetáculo, realidade,  sonhos ,   metáforas, decepções, fantasias....

Meras divagações tecidas  sob a lona desbotada  da solidão  de onde  se pode vislumbrar máscaras em profusão   dispostas a emprestar o riso plástico,
as  falas dos personagens, o cenário, a sonoplastia,
o aplacar da agonia.

Assim agonizam os atores,  diante da plateia vazia...




(Ana Stoppa)

Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 14/08/2012
Código do texto: T3829281
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