À Beira de mim Mesma (Em dueto)
Hoje acordei meio arco Iris, pensei ir ver o mar, misturar cores e sentimentos, dar um colorido especial ao meu dia, mas a chuva chegou primeiro, queria dividir com o tempo, com água e o sol os meus sentires, assim como se divide o pão na mesma mesa e o lençol no mesmo leito...
Dedilhei na chuva meus anseios e ao ronco do toró rebolei meu samba, esqueci todos os dramas, forrei a cama, reacendi a chama que aqueceu o frio, num toque suave de brisa eu rio... Rio de mim, do acaso, do caso, do laço de poesia que me fita e me assenta ao sofá, inebrio folhas amareladas e viajo ao calor do porvir, do logo mais...
Quero o silêncio mais intenso, das pedras, quero tecer histórias. Meus pés agora já não querem pedras, querem flutuar nos fios d'água, desfiar sonhos... Estou à beira de mim mesma...
Cintila sobre mim a calmaria e entre tons vibrantes espalho minhas multicores em versos, dispersos, inversos... Mergulho na magia do eu e perscruto as vozes das fadas entoando mantras e rezas, alternando aos batuques do coração bumbo do tambor dos orixás. E na fé e na esperança dos bons ventos me acalmo, me calo... Me amo!
E sinto a carência de trocas, de toques e de olhares onde poderei ver-me refletida, absorver o que me falta, dividir o que sobra... mistura de substâncias humanas!...
Aceito a solidão mesclada de lembranças boas, soltas e latentes. Andarilho nos passos da escrita que me acompanha e que brilha e que faz gritar tantos personagens de mim e além do que posso imaginar. Nesta estrada que ando seguindo que não percorre carros ou cavalos, nem homens ou crianças. Diante do reflexo da poça no chão vejo uma mulher e dentro de sua retina explode uma cidadela encantada, faceira e viva... Viva!
Autores:
Diná Fernandes
Bia