Recado à futilidade.

Pernas, sapatos

roupas e adornos,

De forma apressada desfilam entre carros,

Andam inquietos pelas calçadas.

Passam por boutiques,

sempre a procura da novidade, da exclusividade.

Até o novo quer ser novo.

Nesse mundo louco me sinto preso.

Mente livre, mas corpo teso.

Diante de uma velocidade que não me atinge,

paraliso.

É sério,

sou capaz de marear, ainda que em terra firme.

Perdido na rapidez de tantos passos.

Pare e observe. Desacelere.

Mas você não consegue, não é?

Tem medo que o mundo o atropele. Medo de perecer.

É tão profundo seu desejo de ganhar,

que não te deixa perder.

No fundo, você tem medo é de recomeçar.

Em sua pequeneza humana,

inverte os fatos.

Se contenta com as pessoas, buscando sempre valor nas coisas.

Olha! Promoção naquela loja!

Porque não mais um par de sapatos?!

Você me enoja.

Quando te olho com calma,

busco sim o novo.

Mas em lugar da alma, continuo vendo seus adornos.

É tanto vazio, que até sinto dó de suas roupas vulgares.

Te levaram a tantos lugares

E você afinal não chegou a lugar nenhum.

Em algum canto escuro qualquer,

lá estarão ao fim do dia.

Pequenos restos de sua velha nova personalidade,

que não se renova no amanhã.

Nem depois, nem adiante.

Alarmante é entender,

que o que falo nada prova,

não causa efeito.

Combinamos assim, cada qual na sua calçada.

Sem alarde.

Pois no fim, estamos mesmo muito distantes

Você e eu, em nossos conceitos de felicidade.