Por vezes pego meu tempo e fico sem saber o que fazer dele. Jogo-o como se desejasse me ver livre desse fardo. Tempo estagnado, frio, dolorido, escuro, duro de continuar. Os dias passam, somam-se às semanas e tudo permanece igual. Essa dor no peito, essa angústia que me consome veio para ficar... Tanto tempo... Como espantá-la, como esquecê-la, como ignorá-la se ela ja se alojou em mim?
Mas, logo vejo uma lua redonda a brilhar na minha janela, sob a palha do coqueiro e tudo se ilumina. O que era pese, torna-se pluma. As lágrimas, risos.
E caminho encontrabndo mil razões para continuar. Aquele olhar doce de menina, olhar que me invade e me faz sentir vergonha de ter pensado em desistir. Aquele abraço forte que me envolveu e me disse: Estou aqui. Aquelas notas tiradas de um violino que me fizeram deixar escapar uma lágrima... Aquela criatura branca, branca que divide a cama comigo, sempre alerta a qualquer movimento que eu faça, sempre fiel nos 17 anos de amor, fidelidade e cumplicidade. Como decepcioná-la? Como ela ficaria sem essa beira de lençol para se esconder?
É o moinho da vida nos engolindo e cuspindo. Ora nos sacode, ora nos envolve. E continuamos à espreita do que poderá acontecer na próxima esquina. Quem sabe um dia essa dor se vá e fique só essa alegria que me acomete quando ela não está por perto e eu passe a caminhar apenas planícies esquecendo os abismos onde quase caí.