DORME, MAMÃE.
Enquanto a mamãe jaz dopada,
Uma filha tudo observa, calada.
O rosto encovado, sem brilho,
Vida marcada, trancada.
Acariciando aquela que jaz
No leito...dia após dia.
Sentindo-se incapaz,
Lamenta em agonia.
Cabelos mesclados,
Que renegam:
Pente, escova,
Cuidados e afagos.
Oh, que fardo!
Queria dizer tanta coisa,
Porém, mamãe não escuta.
Inclinando o corpo
A filha sente o cheiro
Daquela que um dia
Foi um mourão.
Beija-lhe o rosto
Marcado,
Talhado,
Encovado.
Uma, duas...
Nenhuma reação.
Três, quatro...
Um suspiro
Ouve, então.
A mamãe abre os olhos
Enevoados, sonolentos.
Pergunta: Quem é?
Sou eu. Estou partindo.
Responde com voz embargada.
Beijando a pele enrugada,
Sente o odor de limpeza.
Que surpresa!
Há muito mamãe foge do banho.
Que estranho?
Será a ultima vez...
Vê-la-á à mesa?
Há incerteza de um amanhã.
A mãe fica dormindo.
A filha parte ocultando,
Do mundo, seu pranto.
08/08/12