Quando a chuva pinga na alma
Está chovendo lá fora. Ouço os pingos caírem no chão, no teto, no portão. Em cada matéria eles produzem um som diferente. Também fazem um som diferente aqui em meu coração. Ele bate acelerado, no ritmo dos pingos.
A chuva me lembra...tantas coisas! Ela me desafia, me ameaça e me provoca.
Me desafia a esquecer... Me ameaça com suas verdades absolutas: Tudo tem um ciclo. Tudo vai e volta. (Nem que seja em forma de lembranças, na chuva).
Sobretudo a chuva me provoca. Viagens dolorosas, agitação cardíaca, desfalecimento no corpo e na alma (que vai e volta).
Não quero ver a chuva hoje. Aqui de dentro dá para sentir o cheiro. E este cheiro já é suficiente para me embriagar de uma nostalgia tão inútil quanto vital. Por que a chuva é tão cruelmente sincera? Por que é tão ternamente agressiva?
Esses benditos pingos de revelação poderiam cair todos de uma só vez e não lenta e dolorosamente cadenciados! É uma música assustadora de verdades e uma sinfonia prazer-nostalgia-tortura indescritível.
Essa chuva imprevisível, contraditória, milagrosa, irresistível, às vezes destrói e fere, mas sempre traz vida à Terra e ao coração, por isso não podemos viver sem ela. Não sei se tenho medo da chuva. Sei que a amo. Quando ela vem, sinto-me cambaleante, sem defesa, sem reservas, sem chão e sem limites. Sinto me tão...chuva!
A chuva me entende e eu a respeito. Ela me desvenda e me ensina, embora nunca se deixe conhecer.
Esse cheiro de chuva traz ao meu olfato toda a minha vida. Traz em gotas e forma um oceano de imagens flutuantes em quadros de cenas incertas.
Parou de chover lá fora, mas não em minha alma.
E este cheiro de chuva, nunca vai me deixar!
Ps. Republicado. (Para poupá-los do que eu escreveria nesse momento. rssr) Abraços.