É NO DESERTO

É no deserto de minha alma

que encontro o consolo

da minha existência

Posto que minha alma

não bem a conheço

é na minha existência

que o deserto toma conta

Sois os meus companheiros

os poetas e também as meretrizes;

são deles que colho o que sou

esse ser igualmente gente

Não desdigo as promessas

por mães devotas

aos filhos doentes;

são da sua fé e dedicação

que muitos dos condenados

alcançaram a salvação

Porém, tenho a mim uma vaga lembrança

que desde que me vi ainda menino,

presenciei em procissão sequiosa gente

destratar um homem ao relento abandonado

E desde aquele dia, eu ainda dessa vida um debutante,

não posso dar crença às etérias doutrinas,

posto que se hoje tenho alguma sapiência,

posso afirmar que a solução não está nos céus,

nem tampouco no grande criador,

pois sei que dele todos dizem ser devotos,

e no entanto, negam ajuda a um abandonado

E já que dessas cousas não sou um nada inclinado,

já ainda há pouco disse, sou dos poetas e das meretrizes

um admirador em nada modesto,

posto que é dessa gente, por autoridades destratadas,

que colho esse ser igualmente gente