Fiel ao desejo.
Por Carlos Sena


 
Ser fiel?
Ser da boca o beijo ou dela o fel?
Ser fiel?
Ser do fio a navalha ou a cara que ela corta ao léu?

Ser fiel?
A quem importa saber?
Não é o desejo o lampejo do prazer?
Por que não ser infiel se o fel não adocica as boas intenções?

Fiel à fome sacia desejos?
Por que não se dá à boca o beijo?

Afinal, fome não tem nexo, mas fidelidade se mistura com sexo em cenas simples ou de horror. Mas o amor como é que fica?
Amor que fica, fica. Fidelidade não modifica nem tira dos homens o dom de iludir que tanto se atribui à mulher.

As pedras do chão não servem para o massacre dos pecadores que a infidelidade não absolve. Madalena arrependida dos afagos atrevidos não teria vivido agora, com as sobras da moral que tomam formas de camaleão.

Amélia que era mulher de verdade. Fidelidade? Qual a verdade de Amélia para que fosse ela esse turbilhão de amor contido? Amor assim é atrevido. Por que sendo amor não tem sentido e quanto sentido se basta a si, desde que fiel ao desejo?

Fiel ao desejo é o beijo. Véspera do navegar do tato no trato do amor fresco, diluído no corpo predestinado aos lampejos vadios.

Já que o desejo é a véspera da tentação, que me tentem, mas, não me cutuquem com vara curta. Nem sempre a vara curta põe perigo, nem serve de abrigo a permanentes paixões...