FLOR CAÍDA
"Tá lá o corpo estendido no chão...
E um silêncio servindo de amém."
João Bosco
A alma criança de João Hélio está em outras esferas.
Só seu corpinho frágil ficou ali.
Mas não ficou sozinho,
não ficará nunca mais sozinho.
Junto ao menino, agora anjo,
junto às lágrimas dos policiais
e ao pranto de bicho para sempre ferido de seus pais e irmã,
há muito mais.
Há o medo, o nosso terrível medo vestido de blindagens e grades.
Há a certeza feroz da impotência diante dos monstros
em sanguinário carnaval que nunca tem quarta-feira de cinzas.
Há a vergonha de viver em um país de covardes
também integrantes do eterno carnaval brasileiro,
onde usam a fantasia e a máscara imunda do poder,
qualquer poder,
para defender demônios,
assassinos de nossas crianças.
As crianças de verdade, como João Hélio,
ficam no chão,
acompanhadas dos mais tristes sentimentos.
Os monstros vão para os braços dos covardes
e, em aliança infeliz, cantam loas à impunidade.
Covardes, são todos covardes.
E não adiantam passeatazinhas
com pombinhas brancas.
Estas só servem para apagar
mais rapidamente
as marcas de sangue inocente no chão
e desanuviar consciências rasas,
apressadas, já vendo Momo.
São outro desfile de covardes
em carnaval impotente e mentiroso
de quem não se importa
com nenhum João
com nenhuma Maria.