CAETANO ODARA VELOSO

Por Carlos Sena

 
 
“Caminhando e cantando e seguindo a canção”... Bem que essa música poderia ter sido escrita por Caetano Veloso. Mas, é como se fosse, tamanha é a intimidade dele com a boa música. Penso que onde houver boa música ele se enquadra; onde houver uma nota afinada ele com ela se afinam; onde houver um compasso bem ritmado lá está ele – lépido, leve, qual um libélula pululando nas varandas floridas das nossas casas. Às vezes o vendo cantar na televisão ou nalgum show, a gente pensa que ele levita. Sua doce voz lhe conduz a lugares que só os ouvidos sabem e, por pirraça, não nos dizem. Segredos, talvez, mas que a gente tem mesmo é que entender, pois tudo que toca o coração se envolve em mistérios...

“Deixe eu dançar, pro meu corpo ficar ODARA”. Muitos não sabem o que ODARA significa, mas talvez nem precise, pois da boca do Caetano tudo se diviniza. Mas, por curiosidade, adianto que ODARA vem da língua Iorubá, “dara” - belo. Ele é um homem belo, certamente. Sem conotação de sexualidade, mas também com ela por que não? Imagino que quando saiu de Santo Amaro da Purificação ele sabia o que lhe esperava no sul maravilha, porque já levava consigo o sentimento ODARA que o mundo iria um dia conhecer, cantar e amar... “Adeus, meu Santo Amaro, eu dessa terra vou me ausentar, eu vou para a Bahia, eu vou viver, eu vou morar” (...) –  Canção que ele e Betânia entoam com alma como se Santo Amaro estivesse todinha aos seus pés lhe ouvindo cantar.  Não só Santo Amaro, mas Londres, Nova Iorque, Miami, etc.

 “Por isto uma força me leva a cantar, por isto uma força estranha no ar”... Pela força do ar, “Trem das Cores” se mistura no trajeto da Avenida Ipiranga com a São João. Parem pra vê-lo misturado com a "feia fumaça que sobe apagando as estrelas". Estrelas de São Jorge que sorvem o ritmo da chuva onde a garoa disfarça e permitem  os novos baianos curtirem numa boa... Fina Estampa, Sampa Amaro sem Purificação, pois não, pois não!

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos, quem quer vê-los? – Quem tiver os olhos da alma! São esses os olhos preferidos de Caetano que sempre viu a vida além dela e por si mesma... Conseguiu tirar das notas music-AIS os seus AIS, JAMAIS os AIS-5; conseguiu ser de Canô o cano que leva água inspiradora que lhe serve de musa para suas notas afinadas; conseguiu ser da politica sua retórica – categórica odisseia que só quem sabe outonar se estabelece. Cai o pano, cai o ano, cai o dono da pizzaria, não Cae-tano. Vela o destino, vela o desatino, vela a noite concubina de antigos amores clandestinos. Veloso era o vento que se perdeu do lenço que se perdeu do documento. Nada no bolso ou nas mãos, mas com o coração cheio de sentimentos, segue ele Canoando pelo mundo, em busca da “luz do sol que a folha traga e traduz” – destino dos fortes que têm na cara a coragem e no peito muita luz. Porque debaixo dos Caracóis dos seus cabelos há histórias pra contar de mundos tão distantes.

PARABÉNS CAETANO PELOS SEUS 70 ANOS...