Me calo...
como quem teme o nada. Como quem teme um olhar vago. Sem expressão. Sem mais uma mão pra segurar a minha. Sem mais palavras que me acalmam. Sem o amor que sempre quis receber. Incondicional. Puro. Me calo como quem grita pelo coração. Ele só acelera de tristeza. Só eu ouço, só eu sinto. Me calo como quem procura nos livros e na escrita um refúgio. Um lar. Me calo como quem segue os próprios passos olhando pro chão, sem erguer a cabeça pra observar o que está ao redor e quem me observa e quer olhar no fundo dos meus olhos pra ver se há neles alguma dor. Só em palavras se pode calar. A ausência delas é um tanto quanto passível de enganar. Esconder. Omitir. Me calo como quem prefere deixar tudo como está e esperar pelo fim da dor. Um dia ela se cansa de mim. Seguirá seu caminho quando eu menos esperar e o seguirá silenciosa. De fininho. Sem pestanejar.