Medo dos Rochedos

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Medo dos Rochedos

Era interessante o comportamento daquela onda, o medo que tinha de bater contra os rochedos, era fascinante as voltas que ela dava, rodopiava em si, para fugir do contato, da vil correnteza que vinha e levava tudo e que fazia sentir... era interessante o muro que a onda fazia, ficava tão dura que nada a amolecia, e a correnteza passava, não a alcançava, e a cada dia a onda se sentia mais vitoriosa, não bateria nos rochedos, não se fragmentaria, não morreria em pasmos, ficaria exatamente igual... um dia, todavia, a onda estava dispersa, havia endurecido tanto as arestas que a liquidez era nula, ela sentia falta do vibrar, de amolecer, correr junto ao sol, ver a lua surgir, tão preocupada estava com a correnteza. Então, a onda relaxou, abraçou o infinito, voltou a ver o brilho do sol tão amarelo, tudo tão bonito, sentiu a brisa encrespar suas fontes, sentiu o sol, sentiu tanto, até ele ficar mais e mais intenso, viu a onda que a correnteza a pegara, levava-a pela trilha oculta... até os rochedos... a onda esperou o choque, fechou os olhos... que não veio... rodopiou primeiro, águas perpassadas em si, em revoada, um salto só... ela abriu os olhos, estava sendo jogada pra o alto, lançada no ar, e foi aí que se espatifou nos rochedos...

... o que viu a deixou encantada, a onda se viu em milhares de partes, coloridas, distintas, cada uma com sua essência, características... e elas, as partes, iam sendo mudadas, algumas ficavam, outras vinham, se aglomeravam, se entranhavam, nasciam... outras essências, outras características... até formar nova onda, a mesma, mas nova agora, em nova vida.

Dhenova