CONFISSÃO...SINTO O EXISTIR...UM EXISTIR SEM OS PORQUÊS...
CONFISSÃO...
Sinto o existir. Um existir sem os porquês e os senões; insosso, na medida em que o silêncio abole os sonhos e destrói sentidos e possibilidades, quando os olhos já não dizem e a alma pede um tempo a inspiração. A música chega cansada, não vibra! Meu tempo teima na rebusca de suas estações descoloridas... Primaveras opacas, sem os colibris...sem os segredos das aboinhas que não mais pousam nos jardins de meus janeiros. Entristecem-se os ventos aos uivos dos lobos e as mariposas se perdem ao apagar dos lampiões... em que os candeeiros foram efêmeras claridades do começo.
Uma curta infância de brincadeiras e burburinhos, de cata-ventos e cavalo-de-pau...carruagens puxadas por vaga-lumes e ledas inspirações, gravados na agenda imaginária de meus sentidos.
Aqueles meus amigos, insanos, porém leais que nunca mais vi...não mais os tenho, tampouco outros iguais -Deixei-os em busca de meu próprio destino.
Pode-se uma idade contar em décadas de buscas e cifrões e amigos esquecidos na fuligem dos vulcões adormecidos de nossas vibrações? Saudosa mocidade, doce e palpitante... Passageira e distante.
Um vácuo sem a simplicidade do afeto... vida de sonhos e fragmentos de papel, remoinhos de ilusões... esperas desfeitas em horas mortas, grumos que se desmancham ao vento frio que passa errante. Verdades que correm dentro de mim e que hesito revelar... lembranças engrunadas! Trépidas silhuetas de mãos postas e fé ardejante. Escadarias e degraus derruídos, uma velha ponte range lamúrias de velhice que sacia a sede nos lamaçais de esperanças vãs. Debruço na janela de anseios, contemplando a imensidão do vazio penetrante... sem os amigos a quem deixei de dedicar meu tempo e que agora os trago no mutismo de minha velhice... Restolho de décadas de sonhos em busca da plenitude!... Essa cruel saudade que me as entranhas invade e que diz me pertencer,
escrita e registrada em abril de 2009.
do livro poeira e Flor vol: II