VONTADES FLUTUANTES
As vontades flutuam em sonhos...
Afoitas, querem fugir para a realidade.
Andam para lá e para cá... Coçam-se, sentam-se
à espera da primeira oportunidade que demora a surgir,
e quando surge, fica em frestas que a impedem
de se mostrar totalmente...
E as vontades tão almejadas, planejadas, ficam presas nos sonhos
porque as razões se fazem prioritárias e as emoções são impedidas de
circular livremente no saloon das vontades, das necessidades...
Quisera ser que nem flor de campo, que não precisa de jardineiro, nem de paisagistas...
Não precisa de vasos... Não precisa de razões para estar ali.
Simples, deixa-se ficar ao sabor do vento, das intempéries do tempo.
Sem razão nenhuma nasceu, cresceu com a emoção de viver entre tantos arbustos
Diferentes, pontiagudos, rasteiros, alguns venenosos, outros com espinhos... Joios!
A emoção de viver em meio de tantos perigos e saber que continuará viva, mesmo assim...
Mesmo que passem os escorpiões, as serpentes, mesmo que venham ventos fortes e arranquem suas pétalas, ela vive, sem se preocupar com as razões do porque estar ali...
Tem consciência de que quando perecer, outra nascerá no mesmo campo, quem saber ser ela mesma, brotando da mesma raiz...?
Mas somos flores diferentes... Temos que arrumar o nosso espaço para podermos viver bem.
Limpar o terreno, abrir estradas para que o vento passe livremente...
Não podemos sair por aí desnudando nossas pétalas...
Morremos de medo das serpentes, dos escorpiões... Do visível e do invisível...
E diante disso nos agarramos nas razões e matamos as emoções...
Quando não a matamos, deixamos que saciem nossa sede à conta gotas...
E as vontades continuam a flutuar em sonhos...