Confissão
Confesso, vida,
Um pouco de abatimento diante de tí.
Não possuo a exuberancia do cantor de óperas, que arrebata multidões,
incendeia o palco com a beleza da melodia.
Nem a graça dos atores, na sua arte de encantar e iludir, com a mágica
do gesto, da fala - A alegria e a dor.
Nada sei da arquitetura das grandes catedrais e suas torres austeras,
como a apontarem o céu. Nem dos seus vitrais e ornamentos sagrados.
Não rasgo a terra com a paciencia dos meus braços, nem retiro dela, o
alimento da vida.
Não aprendí a alimentar o homem com o suor do meu rosto, e o milagre
dos trigais.
Amei a politica imensamente. Pensei que ela pudesse transformar o mundo.
Fui para as ruas em passeatas, gritei o meu desespero e a crença. Tudo
em vão!
Mas confio, porque é do homem a esperança!
Vai longe o tempo da amizade, da familia, do apêrto de mão. Sinto
que perdemos os valores que acreditava definitivos, da pátria e da razão.
Vejo os mortos enterrando os vivos e me assusto. A terra parece uma
casa feita pelo avêsso.
No entanto, sinto ternura pelos pecadores como eu, os desajeitados
feito eu, inda guardo a lealdade para os passarinhos e as flores.
Quero afagar a liberdade como alguem que respira o vento da manhã,
pela agonia de ser livre, de ser verso, de ser canto.
Não sou grande coisa, vida,
Mas sou poeta!