EU A CAMBAXIRRA E MINHAS QUIMERAS.

Tardes frias, manhãs nebulosas mirando o ausente

queria galgar a terra, caminhar sem destino

...fugir, sair daquele lugar.

Era tudo tão distante

somente mirava o vazio infinito...

minha'lma gritava aflita, no silêncio do abandono

sentia-me só, em desamparo o desapego em mim gritava

eu buscava o ar, sentir o sopro da brisa ou simplesmente respirar;

era só o que eu queria ... nada encontrava, sentia-me fugir o viço, alma vazia gritava...

Um dia, uma luz como cometa, por mim passou

sem pensar, grudei-lhe a crina e nos seus raios reluzentes

viajei, cruzei montanhas, rompi fronteiras me deixei levar...

minha bagagem parca, somente a sobrevivência

o garimpo me daria, sustento

como abrigo flagelei-me num tosco, casebre...

nem tão só eu lá me fora

veio comigo, quem a vida me deu como parceiro

o destino, sabia onde me levar, me abandonei

aportei em terras longinquas...

fixei minha bandeira, foram quimeras suaves

manhãs de encanto explorei, descobri odores, sons e sabores...

veio, o frio e a tempestade

fui envolvida em diferentes sensações

tive medo, gosei prazeres, descobri um novo tempo...

meu parceiro...logo se enebriou, entorpeceu

...se abandonou...se perdeu

prossegui, meu desalento em desalinho a minha sina

as manhãs se acumulavam, e eu nem percebia...

Um dia, manhã de sol, vento soprava quente...

ouvi o cantar da "cambaxirra", minha amiga e companheira também aqui me encontrara, eu já não estava só...

Era a delicada corruira, pássaro de aparência vulgar mais de um cantar que me seduz... que desde menina ouvi somente pra mim

cantar... isso dizia minha mãe !

Pelas manhãs, "ela" me acordava, pra avisar - olha, ela já chegou vem vamos vê-la. Lá estava sobre o meu telhado, sempre no mesmo lugar, sobrevoava e cantava agitada e se ia...assim todos os dias.

E ainda, hoje é assim ... A cambaxirra, canta pra mim.

O tempo agora e distante

as aguas, que aqui passaram se perderam no mar...

Daqueles tempos, somente eu a cabaxirra e as minhas quimeras !