Ainda não é o que vim fazer neste mundo.
Nem nunca foi para agradar ninguém que nasci,
se eu desagrado muito mais me agrada desagradar,
pois que não sejam agradados os desagradáveis
e nem ninguém se agrade dos desgraçados...

Eu nasci de súbito, quase por equívoco,
eu não pertenço a esta certeza de aqui estar.
Tudo é muito pouco, muito pobre e muito feio.
Tudo é muito triste, injusto e imperfeito.

A poesia, eu sei e sinto, não é cor de rosa,
assim como a guerra não é uma festa.
A morte quando nos sorri sorrateira, nos leva
e entre um momento crucial e outro, viver
que é não saber quando é que a morte vem...

Os meus versos são olhares, beijos e flores,
atravessam os mares, povoam o céu com suas cores.
Os meus versos são espadas, adagas, setas envenenadas,
ou são algum alento, remédio, unguento, poção, pomada,
e muitas vezes a peçonha das cobras mais desgraçadas.

Entre o céu e o abismo os meus versos são asas...

Se olhar do céu, minha poesia toda é um inferno.
E se olhar do chão, ela se finge de celestial.
Na distância é expressiva e soa inofensiva,
mas cara a cara é agressiva, nefasta, bestial,
é infame, impiedosa, mortal e destrutiva.

Devasta os sonhos mais singelos,
por diversão ou distração...

Repara bem, que nunca sei quem é mais triste,
se você, que faz de conta que ainda existe alegria,
ou eu que faço de conta que a tristeza não existe,
ou todos nós, que somos enganados pela utopia.

Alienada e triste é a poesia,
se o mundo não disfarça os seus horrores
ou se ela não pintar o horror com outras cores...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 27/07/2012
Reeditado em 06/05/2021
Código do texto: T3800633
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