RECORDAÇÃO
Lá de cima...
Moleca com short de menino e blusinha de menina...
- Menina! Não desce esses degraus, vai que escorrega? - A voz vinha da janela logo atrás.
Com irritação de criança, batia o pé e sentava no primeiro degrau da escada escavada na ribanceira.
La de cima, o cotovelo na coxa e a mão no queixo, resignada olhava o barquinho avariado balançando na água. Já tinha sido todo azul um dia, mas a tinta descascava e só aparecia um pouco da cor esmaecida.
A única parte da ribanceira que não tinha arbustos era onde ficava a escada escavada, ficando suas laterais ornadas com capinzais e vegetações com algumas florzinhas brancas. E lá embaixo a alguns metros do rio, a casinha de madeira sem cor e telhado de palha era cercada por dois coqueiros, uma jaqueira, e mais adiante um lindo açaizal. O dono do barquinho que dançava amarrado no pequeno trapiche, que era um tablado de madeira com estacas afincadas dentro do rio, devia morar lá.
E aquela vontade maluca de descer as escadas saltando com os dois pés, e parando para colher as florzinhas brancas... A vontade de chegar com as mãos cheias de flores e subir no barco, e libertá-lo daquela prisão, pra depois fugir com ele descendo o rio e ir jogando as flores na água...
Que doído era querer fazer isso, mas os olhos na janela que estava por trás eram extremamente vigilantes. E os pezinhos batiam no degrau de terra, agoniados, agitados por conta daquele desejo de criança sapeca.
Enquanto via a correnteza do rio lá embaixo, e alguns barquinhos zarpando com a água beirando o convés... Barquinhos minúsculos com seus motores puc-puc indo pra longe, o olhar se perdia junto com eles até sumirem dentro do rio. Era assim que imaginava tudo. Pensava que quando os barquinhos sumiam no horizonte era porque eles tinham afundado nas águas do rio.
E aquela vontade de descer a ribanceira e fazer parte daquela paisagem... do trapiche com o barquinho amarrado, da casinhas de palha com as árvores...
Aquela paisagem que via lá de cima... Lá do alto da ribanceira...
- Menina, ta na hora de almoçar, vem pro banho. Quer comer vento é?
Levantava, espanava a sujeira do short e corria pra dentro de casa. Depois de tudo, se pendurava na janela e ficava namorando o barquinho balançando... Lá embaixo... No rio, que ficava no pé da ribanceira...
Moleca com short de menino e blusinha de menina...
- Menina! Não desce esses degraus, vai que escorrega? - A voz vinha da janela logo atrás.
Com irritação de criança, batia o pé e sentava no primeiro degrau da escada escavada na ribanceira.
La de cima, o cotovelo na coxa e a mão no queixo, resignada olhava o barquinho avariado balançando na água. Já tinha sido todo azul um dia, mas a tinta descascava e só aparecia um pouco da cor esmaecida.
A única parte da ribanceira que não tinha arbustos era onde ficava a escada escavada, ficando suas laterais ornadas com capinzais e vegetações com algumas florzinhas brancas. E lá embaixo a alguns metros do rio, a casinha de madeira sem cor e telhado de palha era cercada por dois coqueiros, uma jaqueira, e mais adiante um lindo açaizal. O dono do barquinho que dançava amarrado no pequeno trapiche, que era um tablado de madeira com estacas afincadas dentro do rio, devia morar lá.
E aquela vontade maluca de descer as escadas saltando com os dois pés, e parando para colher as florzinhas brancas... A vontade de chegar com as mãos cheias de flores e subir no barco, e libertá-lo daquela prisão, pra depois fugir com ele descendo o rio e ir jogando as flores na água...
Que doído era querer fazer isso, mas os olhos na janela que estava por trás eram extremamente vigilantes. E os pezinhos batiam no degrau de terra, agoniados, agitados por conta daquele desejo de criança sapeca.
Enquanto via a correnteza do rio lá embaixo, e alguns barquinhos zarpando com a água beirando o convés... Barquinhos minúsculos com seus motores puc-puc indo pra longe, o olhar se perdia junto com eles até sumirem dentro do rio. Era assim que imaginava tudo. Pensava que quando os barquinhos sumiam no horizonte era porque eles tinham afundado nas águas do rio.
E aquela vontade de descer a ribanceira e fazer parte daquela paisagem... do trapiche com o barquinho amarrado, da casinhas de palha com as árvores...
Aquela paisagem que via lá de cima... Lá do alto da ribanceira...
- Menina, ta na hora de almoçar, vem pro banho. Quer comer vento é?
Levantava, espanava a sujeira do short e corria pra dentro de casa. Depois de tudo, se pendurava na janela e ficava namorando o barquinho balançando... Lá embaixo... No rio, que ficava no pé da ribanceira...