Por trás da cortina
Ele chora enquanto se despe da máscara que usou para subir ao palco. Ele que arranca lágrimas de felicidade da sua platéia, não consegue controlar as próprias dores. Ele que rouba sorrisos dos descrentes, que ilumina o olhar de uma criança, que encanta multidões, perdeu o brilho no olhar. Ele que conta piadas, se joga ao chão, não sabe sorrir para si. Por trás de toda a maquiagem, de toda a farsa no palco, existe um homem. Mas quem se importa com ele?
Quem se preocupa em saber como ele se sente por detrás das cortinas? Quem imaginaria que aquele homem que vive sorrindo, chora todas as noites? Mas quem se importa? Quem repara naqueles olhos que refletem a tristeza que está estampada em sua alma?Quem é capaz de enxergá-lo? Quem se interessa pelos mistérios e mágoas que se escondem em seu coração? Quem repara que os olhos dele se perdem no vazio, enquanto ele sorri? Quem repara que a voz dele sempre falha no final do espetáculo?
A resposta é indiscutível: Ninguém. Estão todos ocupados demais sendo protagonistas em seu próprio espetáculo. Espetáculo este que é fechado ao público, porque no palco do medo, todos são amadores para entrar em cena. Enquanto ele vive as margens do próprio espetáculo, os telespectadores se julgam protagonistas. Quem é ele?
Ele é o palhaço: vendedor de sorrisos e ladrão de algumas lágrimas. Mas acima de tudo, ele é prisioneiro. Prisioneiro de uma máscara que não o pertence. Prisioneiro da felicidade que vocês supõem ser dele. Prisioneiro de si, este é ele, quando ninguém ver.