Antigo
Queria poder dizer coisas que nunca foram ditas, expressar num único vocábulo todo o sentido da vida, captar em cada momento de beleza a poesia inefável das coisas, interpretar em cada sílaba o mistério de viver, traduzir em cada vogal a complexidade de tudo e formar uma palavra-chave para abrir as portas do Universo.
Queria poder dizer de forma bem suave aos teus ouvidos mornos: “Eu te amo”, e penetrar no teu recanto mais íntimo e ali viver sob a forma repetitiva de um eco: “Eu te amo amo amo....”
Queria poder dizer grandes segredos capazes de trazer a paz à humanidade, e estender a bandeira branca de todas as boas intenções, e levantar as mãos para o alto, num gesto de rendição, e dar fim à guerra fria que instauramos dia a dia.
Queria poder sorrir diante da tristeza, amar diante do ódio, viver diante da morte, e transformar o peso de existir na leveza da pluma, e aliviar a alma moribunda de tanto penar e dar descanso aos pés de mais de mil quilômetros percorridos.
Queria poder dizer tudo numa única frase, sintetizar o Infinito num verso estonteante, reunir numa oração todos os predicados da existência humana, todos os sujeitos compostos de amor, paz e esperança, e tirar do caminho todos os objetos diretos que nos impedem a passagem, e criar um texto cheio de palavras impregnadas de silêncio, e escutar no silêncio a voz indizível do mundo ... E CALAR-ME!